DA ESCÓCIA A CABINDA

O primeiro-ministro da Escócia, John Swinney (foto), defendeu hoje a independência do país e pediu o voto no Partido Nacional Escocês (SNP) ao lançar oficialmente a sua campanha para as eleições de 4 de Julho no Reino Unido.

Num comício em Glasgow para apoiantes do SNP, Swinney, recentemente eleito líder do partido e primeiro-ministro da Escócia — que juntamente com Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte formam o Reino Unido – criticou as decisões tomadas pelo governo central em Londres, afirmando que significaram para a Escócia “Brexit e uma crise de custo de vida”.

O governante afirmou que continua a apoiar a via da independência da Escócia como forma de garantir que as decisões sobre o país sejam tomadas na Escócia e não em Westminster (Londres).

“Uma combinação de cortes em Westminster e o Brexit (a Escócia rejeitou a saída do Reino Unido da União Europeia no referendo de 2016] reduziu o dinheiro disponível para o NHS (serviço nacional de saúde), outros serviços públicos e habitação”, afirmou.

“Só o Brexit eliminou milhares de milhões de libras da economia escocesa”, acrescentou Swinney, que descreveu a Escócia como um lugar “maravilhoso, diversificado e inspirador”.

“Nestas eleições, são esses princípios que vão orientar a minha abordagem. Então, peço que votem no SNP para tirar os Conservadores do governo. Apelo às pessoas para que votem no SNP para colocar os interesses da Escócia em primeiro lugar”, insistiu.

Swinney foi eleito no mês passado líder do SNP e primeiro-ministro escocês, na sequência da demissão de Humza Yousaf do cargo de chefe do Governo escocês, depois do colapso da coligação com os Verdes.

Aquando da dissolução do Parlamento britânico, na semana passada, o SNP detinha 43 dos 59 lugares que correspondem à região da Escócia. A Câmara dos Comuns do Parlamento de Westminster (central) tem um total de 650 lugares.

O primeiro-ministro britânico, o conservador Rishi Sunak, convocou eleições legislativas no Reino Unido para 4 de Julho.

Por lei, o Reino Unido deve realizar eleições legislativas e eleger um novo Parlamento pelo menos de cinco em cinco anos, mas a data específica é determinada pelo chefe do governo.

Vejamos, a propósito (ou nem tanto) o artigo “Solução de Cabinda”, da autoria de Sousa Jamba, publicado no Jornal de Angola em 21 de Junho de 2019:

«Estive recentemente em Cabinda a convite de vários jovens que têm seguido os meus apontamentos sobre a minha existência na aldeia Camela Amões, onde resido há um ano. Muita gente aspira ir viver nos Estados Unidos ou Reino Unido — onde vivi por uma boa parte da minha vida. Sair de lá para vir instalar-me numa aldeia no interior parece ser muito estranho para muitos. Os jovens em Cabinda queriam saber o que é, afinal, que é tão atraente na Aldeia Camela Amões.

«Eu também queria muito conhecer Cabinda. Quando eu era criança, ainda na Angola colonial, houve muita agitação no nosso bairro de Bom Pastor, no Huambo, quando a banda Cabinda Ritmo instalou-se nos anexos da loja do senhor Carvalho. Nós os miúdos íamos lá espreitar os grandes artistas. Conheci vários cabindenses: José Ndele, Miguel Nzau Puna, Raul Danda, falecida Mana Xana, etc…

«Há uma verdade que não pode ser ignorada. Para uma localidade que produz tanta riqueza por causa do petróleo, Cabinda é vergonhosamente pobre. Passei parte da minha infância na Zâmbia — país que tenho visitado com regularidade. Cabinda nem se pode comparar agora com a cidade de Solwezi, no noroeste da Zâmbia, que só conheceu um “boom” económico nos últimos oito anos devido à descoberta de depósitos de cobre. Os bairros da periferia de Cabinda não se comparam a um Kaunda Square, bairro da periferia de Lusaka, Zâmbia, onde passei a minha infância. A praia da cidade de Cabinda estava cheia de lixo — havia uma parte, na área de populações menos favorecidas, que se tinham transformado em locais onde as populações faziam necessidades maiores. O sistema sanitário para os cidadãos comuns em Cabinda quase não existe.

«Fui para a aldeia de Sende, nos arredores da capital, e vi uma lindíssima planície; no passado tinha havido lá planos para a construção de uma vastíssima centralidade; até já se tinha inaugurado a primeira pedra, etc. Com os meus amigos, passamos então a imaginar, por lá, várias Camela Amões. Soube que Cabinda estava cheia de centralidades, que custaram milhões, mas que deixam muito a desejar, por não terem nenhuma qualidade. Na área do Dinge, visitei uma centralidade onde não dava para fotografar porque tal acto iria envergonhar os inquilinos.

«Em todo caso, viajar por Cabinda é um belíssimo sonho. Os cabindenses são altamente simpáticos e não paravam de me oferecer manjenvo, uma bebida local extraída de palmeiras, assim como sakamadessu — um prato de mistura de feijão e kizaka, já que sou vegano. Quando eu perguntava porque razão os cemitérios estavam tão perto das estradas, as pessoas disseram-me que tinha a haver com não querer que os defuntos estejam isolados, tão longe. Depois há, também, o hábito de terem grandes cruzes em frente das casas para repelir os feiticeiros… Há localidades em Cabinda cuja beleza é difícil exprimir por palavras. A floresta, o Mayombe, está cheia de mistérios e histórias.

«Cabinda não é só petróleo. Cabinda é uma região de paisagens cativantes. Cabinda seria o local ideal para um realizador de cinema por causa da diversidade das suas paisagens. Porque razão, por exemplo, é que a região de Cabinda não é mais agressiva em promover o turismo naquela região? Em Cabinda, até não consegui obter um guia turístico sobre as várias atracções da região. Na nossa Aldeia da Camela Amões, o turismo rural é um sector que vai nascendo e cujo valor económico é cada vez mais substancial. Na Aldeia Camela Amões tem havido turistas vindos de várias partes do mundo para virem apreciar as montanhas, rios, e mesmo a cultura do nosso povo. Quando visitei o centro de escultores de Cabinda, vários artesãos lamentaram que ninguém levava o seu trabalho a sério. Tentei ligar para o sector do Turismo em Cabinda quando estive lá porque precisava, a um certo momento, de ter uma conversa com algum guia — a minha chamada, claro, não foi retribuída.

«O futuro de Cabinda vai ser como o de uma Escócia ou País de Gales. Os Cabindas têm muita influência dos Congos – países com laços étnicos e culturais, etc. Mas Cabinda é muito Angola. Passamos pelo Cruzamento do Povo e os meus amigos levaram-me para uma aldeia de gente oriunda do Planalto Central; eram Ovimbundu, sim, mas completamente enraizados em Cabinda, da mesma forma que temos várias famílias cabidensas no Planalto. Conversei com vários Bailundos em Cabinda, todos felizes; um, em Buco-Zau, fez tudo para eu provar carne de porco-espinho. Quase provei…

«A solução de Cabinda passa pela reprodução de aldeias como a Camela Amões. Várias pessoas com quem estive em Cabinda pediram que o Engenheiro Segunda Amões fosse para lá fazer uma visita. Viajando por Cabinda, há muitas vilas como Lândana, construídas no tempo colonial, que parecem estar numa “pausa” — à espera de alguém que possa reanimar tudo. O empresário Segunda Amões supervisionou a construção da magnífica Aldeia Camela Amões quase do nada. Em Cabinda, vi chineses a manipularem máquinas (niveladoras, basculantes, carregadores de camiões ) enquanto jovens locais, sem emprego, olhavam cheios daquele desejo ardente de poderem trabalhar.

«Na Aldeia Camela Amões, as mesmas máquinas são operadas por angolanos, até por mulheres, formados na própria aldeia. Curiosamente, quem me foi falando recentemente sobre Cabinda foi alguém vindo de lá que trabalhava na Aldeia Camela Amões. Foi na Aldeia Camela Amões que passei a ter muitos amigos, vindos para aperfeiçoarem as suas profissões, vindos do Cunene! A solução de vários problemas de Cabinda, fui afirmando, está na emulação do que está a ser feito na Aldeia Camela Amões…»

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